7 dicas para escrever distopias
 



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7 dicas para escrever distopias

Emilly Garcia


Ainda existe aquela crença de que as distopias são apenas livros para adolescentes curiosos, ou meras histórias de ficção científica, situadas em um futuro improvável de acontecer. Porém, muito além desse estereótipo, as distopias possuem um caráter de crítica social e de advertência quanto ao futuro que estamos construindo no agora. Questionamentos como "aonde o consumo desenfreado pode nos levar?", ou ainda "quais serão as consequências do desmatamento daqui a duzentos anos?", podem estar contidos em uma narrativa distópica.

Portanto, para escrever distopias, o escritor precisa saber ler a realidade, observar as tendências culturais, as evoluções tecnológicas, as mudanças na sociedade e as movimentações políticas de sua época. George Orwell, por exemplo, tomou como base o contexto da União Soviética para escrever "1984", um dos clássicos desse gênero.

Mas, qual o conceito de distopia?

O termo foi utilizado pela primeira vez pelo filósofo inglês Stuart Mill, em 1868, como um contraponto às utopias de Thomas More. Enquanto nas utopias o mundo é um lugar ideal, ordenado, justo, seguro e promissor, nas distopias é justamente o contrário. Há uma visão pessimista sobre a realidade, a ideia de humanidade se mostra enfraquecida ou inexistente, governos totalitários interferem nas liberdades individuais, e ocorre a "morte" do indivíduo em favor do sistema.

O romance "Nós" (1924), do russo Ievguêni Zamyatan, é considerado por muitos críticos literários como "a pedra fundamental para outros grandes clássicos do gênero". Depois, vieram "Admirável Mundo Novo" (1932), de Aldous Huxley, o já citado "1984" (1949), de George Orwell, e "Fahrenheit 451" (1953), de Ray Bradbury.



Cena do filme "1984", de Michael Radford


Nas últimas décadas, as distopias têm sido bastante difundidas, principalmente, em adaptações de livros para séries de TV e filmes, como é o caso de "O conto da Aia", de Margaret Atwood, e da trilogia "Jogos Vorazes", de Suzanne Collins.

Em formato de conto ou romance, uma ficção distópica deve conter os mesmos elementos de uma narrativa ficcional (enredo, narrador, personagens, tempo e espaço). No entanto, existem algumas particularidades que tornam esse gênero único. Abaixo, compartilhamos sete características gerais, que contém também dicas para quem deseja começar a escrever distopias.

1. O futuro é logo ali

As distopias costumam acontecer no futuro, ainda que este seja indefinido. Mas, mais que estabelecer uma data, é importante imprimir um aspecto de advertência sobre o amanhã, sobre o que pode acontecer se a humanidade não mudar seus comportamentos. Dessa forma, os tempos vindouros se mostrarão terrivelmente alarmantes para o leitor.

2. Tecnologia e controle social

Insira elementos tecnológicos na trama, sejam eles existentes ou não. Lembre-se, a história se passa no futuro, o que ainda não existe, você pode criar. Nas distopias, a tecnologia, geralmente, exerce a função de instrumento de vigilância, controle social e repressão.

3. Organização social

Crie estruturas sociais com uma organização rígida. Nas sociedades distópicas, toda a vida do indivíduo é pautada pela classe ou grupo ao qual pertence, desde o trabalho que ele exerce, ao laser que usufrui, até a roupa que ele veste. O tipo de vestimenta está intimamente ligado à função social do indivíduo, basta lembrar que, em "O conto da aia", as aias são reconhecidas por usarem um vestido vermelho e chapéu branco, já em "Admirável Mundo Novo", os Deltas vestem roupas cáqui.

4. Poder opressor

Estabeleça uma forma de governo extremamente opressor e regulador das liberdades individuais. Pode ser o governo de um país, ou um poder alternativo exercido por algum grupo social, que emergiu após um golpe de Estado ou após um cataclisma, por exemplo.

5. Defina um medo

Qual o grande medo de uma geração? Ou de uma sociedade inteira? Pode ser a volta do fascismo, a vigilância 24h, ou a perda da capacidade de sonhar. Estabelecer um medo ajuda o escritor a definir o mote da sua história.

6. Não há finais felizes

Não espere que tudo acabe bem, que o governo opressor seja derrotado, ou que a ordem seja reestabelecida. É praticamente impossível ir contra o sistema, o mais próximo disso a que se pode chegar é vencer uma batalha, mas nunca a guerra.

7. Mantenha a verossimilhança

Não importa quantos dispositivos tecnológicos você insira na história ou quantos anos a sociedade distópica esteja à frente, mantenha sempre a verossimilhança.

 

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